Francisco homem negro escravo foi o último a ser punido com pena
de morte no Brasil. Mas os livros de história não contam que o grito de
misericórdia dado pelo escravo no dia 28 de abril de 1876 ainda ecoa hoje e não
pode ser silenciado. O primeiro ato de liberdade de Francisco registrado
começou dois anos antes em um “ajuste de contas” com seus algozes. Como
descreve o escritor Felix Lima Júnior, que ouviu Carlos Fontes a informação que
Josepha Marta, parente de Carlos, “tratava os cativos com excessivo rigor“, e
que o marido dela voltar para casa após o trabalho com eles, fazia-os caminhar
à sua frente enquanto segurava uma pistola na mão. Felix Lima Júnior
caracterizou os crimes como ajuste de contas No dia 27 de abril de 1984,
Francisco e mais dois escravos, Prudêncio e Vicente começavam a colocar em
pratica o plano de vingança contra seus opressores. O primeiro ajuste de contas
foi com os senhores de Prudêncio e Vicente, o capitão da Guarda Nacional João
Evangelista de Lima. Utilizando-se de um punhal no golpe inicial, os
justiceiros atraíram a primeira vítima, João de Lima, para o hotel que este
possuía, onde, depois, desfecharam-lhe vários golpes de cacete e jogaram o
cadáver na estribaria do estabelecimento. Logo depois seguiram em direção ao
Sítio Bonga, para ali fazerem o mesmo com a esposa de João Lima, Josefa Martha
de Lima. Chamaram-na e, quando ela abriu a porta, desfecharam-lhe um golpe de
punhal no lado esquerdo do peito e a assassinaram a pancadas. Pouco antes, o
escravo Prudêncio tinha ido à residência do dr. Telésforo Viana, a fim de
atraí-lo para a emboscada, com a ardilosa mensagem de que o capitão João de
Lima estava passando mal no hotel e havia solicitado a presença do médico.
Talvez desconfiado de alguma coisa, o dr. Telésforo Viana disse que não iria
por já se achar recolhido àquela hora da noite, escapando, provavelmente, de
ser mais uma vítima.
Medeiros
Santana, copia de parte da novela, "A alma do enforcado", do saudoso
antropólogo e etnólogo conterrâneo Dr. Arthur Ramos. O antropólogo pilarense
escreveu servindo-se, provavelmente, de notas fornecidas por pessoas idosas,
residentes no Pilar, e ou vindo informações de outras, igualmente de idade
avançada. E a imagem do negro, pendia na forca, a oscilar a um 50-pro mais
forte do vento, parecia um espectro, no alto do cômoro, bem no alto do sítio,
onde ele cometera o seu crime bárbaro. João Amâncio ouvira toda história, olhos
esbugalhados, numa grande tensão de nervos, revendo, num retrospecto, todas
aquelas cenas horripilantes que lhe narrara o Chico Olegário. O administrador,
depois de uma pausa, mostrando num gesto circular com o braço, toda aquela
extensão de terras, disse o caboclo estarrecido: Isso aqui era uma propriedade
que fazia gosto de ver-se. Não havia, por essas bandas, melhor plantação de
mandiocas. Depois com a fama de malassombrado, o sítio deu prá trás, prá trás,
até chegar a esse estado. Disse que a alma do enforcado costuma aparecer, a
certas horas, gritando "misericórdia! mise ricórdia!" e perseguindo
as pessoas que passam por aquí... . ...Agora, AmâncJoãoio não transitava pelo
Bonga que não fosse às carreiras, recitando mentalmente quanta oração forte
sa-bia, para afastar fantasmas. Fazia cruzes ao maligno, persignan-do-se num
terror fanático, rezava o credo "às avessas" ", murmurava
orações fortes a S. Rita dos Impossíveis, abalando sítio abaixo, só respirando
desafogado ao atingir as primeiras casinholas do Pernambuco-Novo. Trazia em
mente a imagem horrorosa do negro enforcado, a acenar-lhe de longe, envolvido
na sua mortalha preta e a gritar "misericórdia! misericódia!" com uma
voz fanhosa, num es tertor de alma do outro mundo.. (Enxerto de uma novela
inédita.
0 Comentários